Um relato de quem entrou em um projeto voluntário sobre Pandemias

Comecei a trabalhar com uma equipe espalhada pelo mundo para diminuir impacto do Covid-19 remotamente.

Tinha acabado de pedir demissão de uma holding, onde eu atuava como Head de Marketing. Havia tomado a brava decisão para me mudar para o Canadá, poucos dias depois do meu último dia no escritório. Mas aí veio o CoronaVírus e bagunçou tudo.

No limbo entre a sensação de estar desempregada, cheia de energia para voltar a empreender e também paralisada com as reações do mercado, eu paralisei. Meu primeiro dia após encerrar meu contrato seria também o primeiro rumo meus planos de lançamento de projetos próprios que funcionam muito bem em outros países, mas isso foi tomado por um mar de incertezas devido às fronteiras fechadas e a medida forçada que me faz ficar no Brasil por mais algumas semanas (sabe-se lá mais quantas!). Não seria um tempo suficiente que me qualificasse para a vaga na qual a headhunter me convidou para o processo seletivo, uma vez que talvez eu saia do Brasil ainda no primeiro semestre, mas também não é seguro o suficiente eu dizer a um empregador que eu ficarei por muito tempo. Um dilema (cheio de privilégios, eu sei, mas dá ansiedade aqui dentro).

E nesse caos emocional e de previsões financeiras e profissionais, eu vi que toda a crise mundial me atravessava. Eu sentia que podia ajudar o mundo de uma forma mais direta. Passei um dia inteiro desenvolvendo um potencial projeto que facilitaria a troca de serviços entre pessoas durante a pandemia, mas abortei a ideia por problematizá-la demais. Daí caí num grupo de Whatsapp, onde celebridades, CEO’s e demais famosos passavam o dia trocando mensagens, pedidos, conexões e divulgando as doações que as grandes empresas estavam organizando. Ali eu vi um espaço de potencial encontro de “almas”: a minha, que estava com tempo livre mas com um propósito e habilidades técnicas, e a outra alma que poderia validar a execução de algum projeto que ajudasse as pessoas no meio de tudo isso.

Sim, eu estava falando de ser voluntária. Mas no centro de todo esse caos, também percebi a dificuldade de todos organizarem até mesmo voluntariado. Porém, ainda inquieta, eu encontrei uma plataforma das gringas, que reuniria projetos em busca de voluntários para diminuir o impacto negativo do COVID-19 na sociedade. Aí começou a saga 😉

Uma plataforma para unir voluntários com iniciativas relacionadas ao CoronaVirus me levou para lá

Eu me encantei quando vi o https://helpwithcovid.com/. Lá existem dezenas de pessoas sonhando com projetos que podem impactar positivamente o mundo nesse período de crise.

São pessoas criando aplicativos, sites e diversas outras soluções para ajudar. Lá também é possível se cadastrar como voluntário procurando por um projeto para atuar. Eu me cadastrei lá, então.

Recebi, em 3 dias, 6 convites de pessoas me convidando para participar de projetos. Eu fiquei confusa e ansiosa, sem saber muito bem como colaborar e tentando entender as ideias de cada projeto, mas até que um dia, um empreendedor venezuelano, que vive como nômade digital chamado Manu Alzuru me encontrou por lá e me chamou para fazer parte da ideia que estava nascendo ali (o nome ainda estava sendo definido, era um embrião o projeto que hoje, é quase um MVP prontinho). Eu gostei e topei

Aí começou a nascer o FightPandemics.

A foto 1 mostra quando o time estava só iniciando, e a foto 2 mostra uma das reuniões que fizemos 1 semana após o início! Incrível tanta gente engajada!

O Manu foi vítima do CoronaVírus e, fechado durante a quarentena em um imóvel na Espanha, teve um insight: havia muita gente querendo ajudar, muita idéia, empresas querendo patrocinar empreendedores, instituições oferecendo patrocínios e incentivos para pesquisas, mas tudo isso estava absolutamente fragmentado, perdido, com energias dispersas e desperdiçadas. Daí veio o insight do projeto: e se a gente tiver um lugar para conectar todos esses recursos as pessoas e projetos que precisam para fazer as coisas acontecerem?

A ideia do FightPandemics é muito mais que um agregador de soluções para ajudar as pessoas durante essa epidemia do CoronaVírus. Um outro raciocínio que fica cada vez mais claro durante o trabalho em equipe, é o de que (infelizmente, dói admitir, eu sei) essa não é a primeira e também não deve ser a última pandemia que o nosso planeta vive, então seria maduro da nossa parte aprender e implementar ferramentas agora para diminuir o impacto das próximas crises que a humanidade pode enfrentar.

Assim surgiu o projeto que reúne mais de 20 voluntários do mundo inteiro. Ainda não é sustentável, sabemos que precisamos de recurso financeiro para fazer isso ir mais além, mas até agora tem sido incrível o resultado e ver o desenho do nosso MVP se tornando uma realidade é algo muito legal, que aliviou um pouco a tensão da primeira semana de quarentena.

Fizemos parte de um hackathon essa semana, e olhando aqui o material que tínhamos quando nos inscrevemos dá para entender um pouco mais a ideia.

As 4 coisas mais relevantes que aprendi trabalhando no FightPandemics até agora

Tem gente do mundo todo, de diversas áreas profissionais e período de experiência. Não tem RH para organizar o perfil de cada um, e o que temos é uma babilônia produtiva e rica de proatividade. Nessas 2 semanas trabalhando com a equipe, o mais legal de aprender foi:

1- Aprendi a usar o NOTION.so

Eu fiz cara feia quando vi o fundador dizendo que usaríamos o Notion para “tudo”. Eu pensei: “mas gente, e o Trello e o Google Docs? Isso tudo já existe e funciona bem”.

Daí, após uma videocall com o Manu, entendi que a proposta do Notion era exatamente a de reunir isso tudo em um espaço só, e que para um trabalho remoto onde temos pessoas trabalhando dezenas de fuso-horários diferentes, isso é ótimo.

Aprendi a usar a ferramenta e vi que ela realmente diminui aquela “dor” de perdermos os links do arquivo no Docs que alguém divulgou talvez no slack, ou teria sido no Whatsapp?

2- Conheci a ferramenta TANDEM.chat

Aí eu fiquei sem entender quando uma pessoa sugeriu essa ferramenta. Eu instalei, fui lá ver e fiquei sem entender por qual motivo tínhamos aquilo, além de ter também o Slack que cumpre lindamente a função de ter comunicação instantânea!

O Tandem é um chat criado para equipes que trabalham remotamente (duh, mais uma ferramenta assim, rly?). Mas o que é realmente legal nessa ferramenta é o fato de ela mostrar para todos em que o colega de escritório está trabalhando no momento, sem invadir a privacidade de ninguém.

Teve um dia que eu estava precisando de uma resposta um pouco urgente via Slack de um integrante da equipe, e ele, que sempre retornava rapidamente, estava demorando um tanto e por isso eu não conseguia prosseguir na tarefa. Mas aí o Tandem ajudou demais. Lá eu consegui ver que ele estava usando o aplicativo Zoom, logo eu entendi que ele estava em reunião, e por isso impossibilidade de responder. Simples!

3- Voluntários precisam ser “alimentados” rapidamente

A curva de desistência de voluntários é alarmante. Muitas pessoas entram e desistem em menos de 2 dias. A causa disso é a falta de gestores de projetos, de líderes.

É engraçado perceber que as pessoas entram no projeto voluntário querendo assumir tarefas mais operacionais, na maioria das vezes. Raramente surge alguém querendo voluntariar o dom de gestão.

Eu topei o desafio de liderar o time de marketing digital, com equipe remota de voluntários. Tenho ali minhas dificuldades, tenho navegado em tarefas operacionais que eu não fazia há alguns anos, mas tem sido um aprendizado legal para o projeto voluntário.

Resumindo, liderar um time de voluntários de um empreendimento 100% remoto requer uma habilidade pesada de ter tarefas já na ponta da língua e delegar assim que a pessoa chega com a energia alta.

4- Usar Hackathons e ferramentas de desenvolvedores como estratégia de marketing

Já fui organizadora de Hackathon e entendo para que ferramentas como Github servem, mas ter um ponto de vista desses espaços que geralmente são frequentados mais por dev’s UX designers também como um meio de comunicação direta e de ponto de contato para atrair novos usuários para a ferramenta, foi algo muito legal.

Inserimos nosso projeto no DevPost e foi muito positivo o resultado, e foi aí que a ficha caiu ao perceber que esses ambientes servem também para as estratégias de comunicação.

Em espaços como esses, o que mais é possível ver são pessoas engajadas. Não importa muito bem em qual causa, mas o sentimento de colaborar costuma ser inerente nessas plataformas, e então aquilo se torna uma mina de pessoas que fazem parte do grupo que queremos atrair.

Enfim, eu aprendi muito mais nessas duas (quase 3) semanas de projeto voluntário, mas esse relato já dá um gostinho. Se tiver afim de ser voluntário com a gente, é importante que você se comunique em inglês. Se topar, me dá um oizinho aqui e envio detalhes.

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